Pausa para prozear =)

12 novembro, 2012

A Foto Frustrada

Img/google


Episódio 1- A chegada

Passava um pouco das cinco da tarde, olhei o céu e lembrei que poderia ter ido um pouco mais tarde devido ao horário de verão. Fiquei fazendo hora no carro mesmo, aproveitei para checar a câmera e  observar os arredores. É uma praia bonita, mas poderia ser mais valorizada, afinal, é o mais belo crepúsculo de Cabo Frio. Lembrei-me quando passava criança por aquelas bandas, quando visitava a cidade nos fins de semana. A rua ainda de terra batida, a igreja era uma capela que compunha uma charmosa vila de pescadores, combinava harmonicamente com a natureza do lugar. Charme longe do que se é agora... fiquei pensando como o crescimento pode ser retrógrado quanto a isso. Hoje, a capela se transformou numa igreja maior e mais 'estilosa', deformando a paisagem. As casas, sem o menor planejamento,  foram se transformando conforme o crescimento da família, deu um ar de menosprezo e desleixo ao local. Como se perde turisticamente aqui...Vi um deque de madeira um pouco adiante, peguei a máquina e desci do carro para ir lá ver, gostei; pelo menos numa coisa acertou-se ali. Tinha uma corrente com cadeado impedindo a passagem, mas um morador disse que podia passar mesmo assim então, claro que pulei a corrente e fui conhecer melhor o deque. Enfim, algo harmonioso para a merecida praia, que na verdade, apesar de se chamar 'Praia do Siqueira' é uma grande lagoa. Olhei o relógio, nem eram cinco e meia, a hora passava a lentos passos, mas o sol já ia mostrando sinais  de que queria se pôr e é uma foto que vale a pena. O que são umas horinhas perto de outros sacrifícios que um fotógrafo é capaz de passar atrás de um clique perfeito.
Assim que comecei a fotografar, cismei de registrar pássaros, fiquei horas procurando dentro do mato e sendo devorada por mosquitos que mais pareciam hematofagos vindos da Somalia. Quando enfim avistei o que me parecia um sabiá, quase nao me contive de ansiedade, mirei a máquina e cadê? voou. Obvio que desisti.

Mas, voltando ao assunto da Praia do Siqueira, fiquei pensando em como o Brasil nao explora bem os seus belíssimos recursos naturais, enquanto há países que sabem aproveitar de forma peculiar. Para o escritor Alfred Hitchcock, o pôr do sol mais bonito é o de Zadar, a quinta maior cidade da Croácia, quem sabe, ainda possa planejar doze horas de vôo só para fotografar o célebre pôr do sol. Conforme li, ninguém pode passar por essa vida sem conhecer esse  famoso crepúsculo e ouvir o seu ' sea organ' (órgão musical), um tipo de instrumento musical, de alguma forma produzido pela engenharia hidráulica da vasta escadaria, a qual, pode se sentar para apreciar, como dizem, o sol 'cair' no mar. Alguns descreveram esse som como semelhante ao som da flauta , ativado pelo movimento das ondas, imagine que espetáculo. O Brasil  até que podia valorizar a sua vasta e riquíssima natureza, mas não há consciência ou empenho... uma pena.
'Investir em bom turismo, rende bons frutos', começou assim a minha primeira aula de Marketing quando eu fazia Turismo na Estácio, a voz mansa e grave do professor aquietou a turma. O mesmo professor que fazia questão de enfatizar que é preciso manter as características do lugar e saber explorar isso.  Caso eu mostrasse a ele, uma foto da Praia do Siqueira quando eu vim criança e outra do que vi dias atrás, com certeza, as usaria em aula como exemplo do que é um desperdício turístico.
E pensei no esgôto, no quanto poderia estar sendo desembocado naquela lagoa...  comecei a imaginar aquele sol se pondo sôbre um composto líquido enriquecido de coliformes fecais... coisa mais dura de se pensar... o meu olhar diante daquela lagoa mudou, ganhou um ar penoso...
Como o tempo passa quando a mente vagueia, já eram cinco e quarenta

Episódio 2- A espera

Como queria esperar mais um pouco, pelo menos entre seis e sete (pelo horário de verão), fazia questao do momento certo, resolvi sentar num dos quiosques e pedir uma água de côco. Um senhor de ar despreocupado, de idade já avançada, tomava a sua cervejinha gelada na mesa do lado, as rugas eram bem fincadas, típicas de pele sofrida pelo sol e devido a própria idade. O cumprimentei e  perguntei se poderia tirar uma foto, mas ele riu e  muito simpático, brincou que já passou dos tempos de 'gatinho', que eu ia estragar o filme da máquina, que foto fica bonita com gente jovem... Justificou -se com o maior motivo de eu querer fotografá-lo, o tempo. Como explicar a ele, que seu rosto expressivo, envelhecido e queimado de sol, é que faria uma bela foto. Preferi nao insistir.

Mais adiante, um pescador ali, parecia consertar uma tarrafa. Estava sentado num banco, com certeza, trazido da casa em frente. Lembrei o que meu avô disse-me uma vez, que 'tarrafear' requer muita prática e pelo que vi com aquele pescador, muito tato para consertá-la também.
Estava querendo me lembrar o nome daquela igreja... uma amiga minha, da terrinha, tinha me dito quando soltava o verbo falando certa vez da obra da igreja, mas sabe como é dirigir com preocupação  com hora em trânsito chato com alguém tagarelando do lado, mesmo que o papo esteja interessante, se ouve apenas qualquer coisa, pelo menos, comigo é assim.  Mas, nao hesitei em perguntar e conforme o dono do quiosque, eh a igreja de Sao Pedro, nada mais previsto.

Bom , já havia um tempo naquela tarde, que eu já tinha percebido um ventinho, olhei para o céu ressabiada, o sol que estava mais baixo, sumiu e que nuvens eram aquelas? o céu começou a ficar diferente... lembrei-me do passaro.
O senhor da mesa ao lado, o que não se deixou fotografar, nao titubeou em  mandou um : " Sei não eim, isso é vento de viração!"
E ele tinha toda a razão.Terminei a água de côco que havia pedido, voltei para o deque e comecei a torcer para que aquele vento desvirasse e levasse as nuvens para bem longe. Cabo Frio tem disso, muda o vento de repente e comecei a torcer pelo nordeste, pois era só o que me faltava naquele momento. Pelas previsões, era para estar chovendo por aqui desde o início da semana e ao contrário do que se esperava, o tempo ficou firme na cidade. O que me levou esperançosamente, a achar que poderia ser só uma artimanha do vento e quem sabe, o céu arreganhasse um lindo sorriso pra mim novamente. Afinal, nenhuma Lei de Murphy seria tão imaginativa.

Episódio 3 e último- O céu

Dito e não feito. Embaçou o tempo. Eu esperava uma bola de fogo num céu em tons degradês, do vermelho ao amarelo dourado passando por laranja e salmão...  mas, naquele momento, de rosáceo foi para um tom de cinza quase chumbo.
O vento aumentou, as águas da lagoa se encresparam e  já estava fazendo frio.
Quando não deu mais sinais pra acreditar que ainda veria  céu limpo e sol deitando no horizonte, resolvi ir embora e deixar para uma próxima.  Entrei no carro e vim pelas palmeiras, beirando um outro lado da lagoa. Resolvi  passar logo na padaria e trazer pães para o lanche. E é aquele pão que fazem com gingerlim em cima que adoro.
Ainda com aquela impressão de missão não cumprida, retomei o meu rumo. Notei que embora ainda ventasse, tinham menos nuvens e não estava mais com aquela tremenda 'cara' de chuva.
Chegando na reta de casa, louca por um cafe para tomar com o pao, mais um fato inesperado, o tempo resolveu abrir... do nada. Olhei pelo retrovisor e deu para perceber o céu avermelhado para os lados da Praia do Siqueira. Foquei no cafe.



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"Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento."(Clarice Lispector); "Ajusto-me a mim, não ao mundo." (Anaïs Nin);
Sou maior que os ventos contrarios.
_AC. Lara

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